Desde a meia-noite do último sábado, dia 16, os relógios
foram atrasados em uma hora nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina,
Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Mato Grosso do
Sul e Distrito Federal. Apesar de a iniciativa ser tomada há anos baseada no
argumento da economia de energia, cada vez mais o seu reflexo para o setor
elétrico é pequeno, o que leva à discussão da manutenção ou não dessa ação.
No ano passado, a Secretaria de Energia Elétrica do
Ministério de Minas e Energia realizou estudos, em parceria com o Operador
Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que foram encaminhados à Casa Civil da
presidência da República sobre a economia do horário de verão do ponto de vista
do setor elétrico. As conclusões foram que "a aplicação da hora de verão,
nos dias de hoje, não agrega benefícios para os consumidores de energia
elétrica, nem tampouco em relação à demanda máxima, muito em função da mudança
evolutiva dos hábitos de consumo e também da atual configuração sistêmica do
setor elétrico brasileiro", ou seja, os resultados foram próximos à
neutralidade para o segmento.
Serão realizadas novas análises técnicas e, quando
concluídas, serão encaminhadas à presidência da República, a quem cabe a
decisão de manter ou não o horário brasileiro de verão. O Ministério de Minas e
Energia ainda não divulgou a perspectiva sobre a economia obtida neste horário
de verão e não há previsão para que isso ocorra. No Rio Grande do Sul, de
acordo com a assessoria de imprensa do Grupo CEEE, a estatal vai aguardar dados
oficiais do ONS para divulgar qualquer informação sobre o assunto. No entanto,
a RGE, concessionária responsável por distribuir 65% da energia elétrica
consumida no Estado e atender 2,86 milhões de clientes, revelou seus números.
Conforme levantamento da empresa, a redução no consumo de
energia elétrica durante os 105 dias de vigor do horário especial gerou uma
economia de 4.584 MWh na área de concessão da distribuidora, suficiente para
abastecer 2 mil residências por um ano. A RGE estima uma redução da ordem de
0,14% no consumo de energia elétrica durante o horário de 2018/2019, nos 381
municípios abrangidos pela companhia. O volume de energia seria suficiente para
atender a uma cidade do porte de Caxias do Sul por um dia, Passo Fundo e São
Leopoldo por dois dias cada, ou Montenegro por quatro dias.
O diretor da Siclo Consultoria em Energia, Paulo Milano,
confirma que as vantagens com o horário de verão vêm diminuindo com o passar
dos anos. O analista reitera que esse fenômeno é devido à mudança de hábitos de
consumo do brasileiro, deslocando o pico da demanda mais para a metade da tarde
do que no início da noite. O consultor argumenta que o aumento do uso dos
condicionadores de ar é um dos principais fatores que propiciaram esse cenário.
"Eu, particularmente, gosto do horário de verão, mas é muito provável que
ele seja extinto no ano que vem", prevê o diretor da Siclo.
Segundo Milano, a manutenção ou não do horário de verão virou muito mais uma discussão de hábitos do que do setor elétrico. Apesar de ser um partidário da medida, o analista lembra que várias pessoas não gostam da iniciativa, que também implica algumas confusões como, por exemplo, mudanças nas agendas de voos. Para o consultor, a decisão sobre acabar ou não com o horário de verão deve ser tomada pelo governo, sem ser submetida a uma consulta popular, pois essa ação acarretaria elevados custos.