“Mas,
eu, o que é que eu era?” Assim
se questiona Riobaldo na obra Grandes
Sertões Veredas. A dúvida do jagunço, personagem fictício de Guimarães Rosa,
feita enquanto realizava a travessia pelo Sertão, isto é, pela vida que se vai
ordenando através do seu narrar, é também dúvida de todo ser humano. Ouso dizer
que é eterna e caracteriza o próprio ser humano, enquanto ser em busca.
Para esse eterno
questionar temos sempre respostas condicionadas ao momento histórico que se
vive e o momento atual é complexo. A vida está complicada! É muita senha para
decorar, muita lei para seguir, muita conta pra pagar. Tem muito carro na rua.
Tem muito lixo na rua. É muito risco, muita insegurança. É muito partido político
e nenhum deles interessado no que realmente importa para este país. É muita
gente morrendo. É tanta informação que no fim não sabemos o que é a verdade.
Aliás, inventaram a pós verdade.
Para o físico americano
Yaneer Bar-Yam, fundador do Instituto de Sistemas Complexos da Nova Inglaterra,
o termo complexidade é definido como “o número de coisas conectadas umas às
outras”. No atual contexto de uma doença infectocontagiosa que provoca uma
pandemia mundial, as nossas conexões tomam ainda maior importância. Nossas
conexões atualmente provocam medo, porém como temer aquilo que nos define?
Somos seres relacionais. Na nossa abertura para o diferente encontramos um
outro, o qual nos permite romper as relações egoístas da autoidolatria e da
dominação e permite acolher a dimensão dialogal defendida por Buber e que
constitui a referência do eu-tu.
Esta
dimensão dialogal eu-tu realiza-se na vivência da responsabilidade, cuidado e
generosidade, requisitos primordiais para uma sociedade mais humana, uma vez
que são exigências da alteridade.
Nélio Vieira de Melonos
diria que o sujeito se faz sujeito quando no seio de sua imanência egoísta
rompe o próprio egoísmo e se abre à manifestação de outrem. Desta forma ser
missionário, ir ao encontro do outro, não é uma parte ou um ornamento que posso
por de lado, não é um simples apêndice que posso retirar, mas é parte
constituinte da essência do ser humano. É necessário sair, ir ao encontro.
Apesar do medo de relacionar-se devemos ter a coragem do profeta e repetir “Eis-me aqui, envia-me”(Is 6,8). É
necessário romper a fronteira do “seguir, “curtir”, “stalkear”, para de fato
encontrar o outro que verdadeiramente existe em um mundo real, é preciso vencer
o medo. Talvez aconteçam acidentes, feridas e marcas de lama por termos saído
pelas estradas da vida, mas é preferível as cicatrizes da missão do que a
calmaria de uma vida sem sentido.