A
solidariedade é um tema pertinente no âmbito de nossa fé cristã. De maneira
equivocada é traduzida algumas vezes como uma ajuda pontual, principalmente em
situações difíceis, quase sempre ligadas à vida financeira. Se assim unicamente
o fosse, nossa solidariedade cristã não passaria de filantropia, que não é em
tudo ruim, mas não possui uma característica particular: o Cristo. A nossa
solidariedade sem o Cristo se esvai pelo compadecimento com as dificuldades ou
sofrimentos do outro em um determinado momento de sua vida. Ficamos, portanto,
restringidos a soluções momentâneas, a um alívio.
A
Evangelii Gaudium nos diz que “a solidariedade, entendida no seu sentido mais
profundo e desafiador, torna-se assim um estilo de construção da história, um
âmbito vital onde os conflitos, as tensões e os opostos podem alcançar uma
unidade multifacetada que gera nova vida. Não é apostar no sincretismo ou na
absorção de um no outro, mas na resolução num plano superior que conserva em si
as preciosas potencialidades das polaridades em contraste”.
Solidariedade
é marca autentica do cristão, é o selo da autenticidade da fé. Incorre em
contradição quem diz ser religioso, mas, incapaz de vivenciar a solidariedade.
O cristão não pode agir como se não conhecesse a solidariedade ou como se
tivesse medo dela. O Papa Pio XII em sua
Encíclica Summi Pontificatus fala sobre
o perigo do esquecimento da solidariedade. “O primeiro desses erros
perniciosos, hoje largamente difundidos, é o esquecimento daquela lei de
caridade e solidariedade humana, sugerida e imposta, quer pela identidade de
origem, e pela igualdade da natureza racional em todos os homens, sem distinção
de povos, quer pelo sacrifício da redenção oferecido por Jesus Cristo sobre a
cruz ao Pai celeste em favor da humanidade pecadora”.
Jesus
Cristo é a Solidariedade do Pai para com a humanidade submersa na condenação do
pecado. O cristão que se abre à ação do Espírito Santo é inspirado a agir de
forma sempre solidária, a partir de gestos corajosos para com o próximo. Não
por acaso, o gesto é chamado de mandatum
(mandamento) na antífona da missa de lava pés: “Um novo mandamento vos dou: que
vos ameis uns aos outros como eu vos amei, diz o Senhor”(Jo 13,34). De fato, o
mandamento do amor fraternal e solidário compromete todos os discípulos de
Jesus, sem qualquer exceção.
A Igreja cumpre o “mandatum“,
em sua essência; seu sentido é o de colocarmos em prática o serviço humilde a
todos os nossos irmãos, conforme o exemplo de Jesus a seus discípulos. A Solidariedade de Cristo nos convoca
a transcender do ato físico de lavar os pés do outro para vivenciar o pleno
sentido desse gesto: servir, com amor e solidariedade, ao próximo. Não se resume em doações financeiras,
mas em um ato de disponibilidade a todas as necessidades do outro.
Desde
o início da pandemia, a Igreja Católica e diversas instituições vêm realizando
ações de solidariedade e união por todo país, com o intuito de auxiliar na
superação de uma das maiores crises de saúde pública. “A solidariedade é um dos
atos mais nobres, e precisa ser exercitado no diálogo entre essas Instituições
para que a Proteção da Vida seja colocada acima de qualquer interesse”. Vamos à
solidariedade do diálogo em favor da vida?