Segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), os preços da gasolina e do diesel subiram nas refinarias 20% e 18%, respectivamente, em 30 dias, entre 22 de abril e 22 de maio. As reclamações contra os constantes aumentos dos preços dos combustíveis já se estendem por dois anos e seus reflexos afetam negativamente toda a sociedade, particularmente os mais pobres.
A alta constante dos preços dos combustíveis está diretamente vinculada a uma política de reajustes atrelada às variações dos preços internacionais do petróleo. Tal política gera lucros muito atrativos aos investidores internacionais. Os preços praticados visam atraí-los para que comprem fatias, cada vez maiores, da Petrobrás e do Pré-sal, resultando num processo veloz de entrega deste patrimônio nacional. É este o quadro econômico e social que provocou a insatisfação social e resultou na greve dos caminhoneiros.
Os acordos firmados para o fim da greve são falsas soluções para o problema. Por um lado, o governo subsidiará o preço do diesel repassando dinheiro dos cofres públicos à Petrobras e, por outro, abriu mão de receita de impostos. O resultado dessas medidas será o corte de gastos em áreas importantes como a saúde, educação, saneamento, previdência, moradia e outras.
Essas políticas são próprias de um governo que tem um projeto neoliberal de sociedade, que reduz fortemente os investimentos em áreas sociais e favorece o lucro escandaloso das grandes empresas, resultando em um processo contínuo de concentração de riquezas nas mãos de poucos e o aumento do número dos empobrecidos.
A Igreja Católica se manifesta solidária aos trabalhadores do transporte de cargas que enfrentam condições difíceis de trabalho. No entanto, não compactua com muitos deles que indevidamente pedem intervenção militar, pois as mudanças profundas a serem realizadas em nosso país, devem ocorrer respeitando-se o Estado democrático de direito.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil se manifestou por meio de uma nota no dia 30 de maio, dizendo que “é necessário cultivar o diálogo que exige humilde escuta recíproca e decidido respeito ao Estado democrático de direito, para o atendimento, na justa medida, das reivindicações”, e conclamou “todos à oração e ao compromisso na busca de um Brasil solidário, pacífico, justo e fraterno”.
Jesus ensinou seus próprios discípulos a não buscarem interesses particulares que se contraponham ao bem comum, dizendo-lhes: “Vós sabeis que os chefes das nações as oprimem e os grandes as tiranizam. Mas, entre vós, não deve ser assim: quem quiser ser grande, seja vosso servo, e quem quiser ser o primeiro, seja o servo de todos” (Mc 10,42-44).
Aos que temos fé, cabe-nos pedir a Deus que ilumine a todos os cidadãos e cidadãs, ajudando-nos a buscar e a encontrar uma nova maneira de governar o Brasil, coerente com o ensinamento de Jesus a respeito do bem comum.