Nos dias atuais, tornou-se corriqueiro atribuir o conceito de comunidade a muitíssimos agrupamentos de pessoas, muito além do contexto religioso, no qual é usual. O mundo profissional, acadêmico, esportivo, político e midiático incorporou-o. No Brasil, esse conceito se difundiu sobretudo por influência da Igreja Católica, cujo fundamento é essencialmente comunitário. Em que medida essa ampla aplicação do conceito de comunidade está ajudando a sociedade a se estruturar comunitariamente, por exemplo, no campo da economia?
Essa questão é importante para todas as
esferas sociais que valorizam a com unitariedade. Afinal, se o estilo
comunitário de vida é um valor, que tal aplicá-lo em todos os âmbitos da
sociedade? Para a Igreja, essa questão é crucial, afinal é sua missão promover
comunhão interpessoal e social. Sendo este seu “DNA”, qual deve ser o impacto societário
de sua proposta comunitária? As “comunidades”, seculares ou religiosas, se
propõem transpor os limites de suas motivações particulares, para construir um
projeto societário cooperativo?
É evidente que um projeto desse tipo se concretiza, progressivamente, desde o nível local ou setorial. Mas, a estratégia deve ser global. A humanidade toda necessita aprender o valor da cooperação, pois a engrenagem do mundo não funciona assim. A ideologia da concorrência impera e é pouco, ainda, questionada. Muitos economistas e políticos a defendem “cegamente”. O caos social gerado pela extrema liberdade de mercado comprova o falso profetismo do desenvolvimento econômico sem desenvolvimento humano integral e sustentável.
Assim sendo, todas as áreas da sociedade que,
de fato, pretendem ser “comunidades”, têm por vocação colaborar para que o
mundo, prioritariamente econômico, se desenvolva em moldes cooperativos.
Setores juvenis são particularmente importantes para essa empreitada. Por isso,
o Papa Francisco está convocando jovens economistas de todo o mundo para um
encontro em Assis, na Itália, em março de 2020, que dê a conhecer quem está
estudando e buscando colocar em prática, conforme
diz ele,“uma economia diferente”, sem exclusões.
“Hoje, mais do que nunca, tudo está intimamente conectado e a salvaguarda do ambiente não pode ser separada da justiça para com os pobres e da solução dos problemas estruturais da economia mundial. É necessário, portanto, corrigir os modelos de crescimento incapazes de garantir o respeito ao meio ambiente, o acolhimento da vida, o cuidado da família, a equidade social, a dignidade dos trabalhadores e os direitos das futuras gerações.” Esse desafio apontado pelo Papa para o encontro de Assis, interpela a assim chamada, “comunidade internacional”.
A Igreja no Brasil é contundente nesse campo,
reconhecendo em suas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora, que “vivemos num
sistema social e econômico que é injusto na sua raiz” e que o mal está “cristalizado
nas estruturas sociais injustas que, em si mesmas, geram exclusão e
desigualdades, golpeando especialmente a dignidade humana daqueles que já são
considerados não só excluídos e explorados, mas supérfluos e descartáveis”
(DGAE, nº 64). Como e com quem a Igreja no Brasil propõe afrontar esse sistema,
tornando-o cooperativo?
Em suas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora, a Igreja confia
às “Comunidades Eclesiais Missionárias”o protagonismo de estilos mais
autênticos de vida comunitária e de ações que propiciem o avanço da sociedade em
direção à “economia de comunhão” proposta pelo Papa Francisco. Ela se mostra
cada vez mais clara neste propósito a ser implementado no
diálogo social. Os demais setores da sociedade que se pretendem comunitários,
estariam dispostos a trilhar esse mesmo caminho? O que, afinal, cada um
deles propõe e se propõe?
Jales, 11 de julho de 2019.