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Palavra do Bispo

Dom Reginaldo Andrietta

Sábado, 21 de Novembro de 2020 às 10:34

AMANHÃ VAI SER OUTRO DIA

Dom Reginaldo Andrietta, Bispo Diocesano de Jales

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2020 começa a findar-se. Há um ano, o Brasil do capitalismo ultraliberal, financeiro e dependente, não imaginava que poucos meses depois, a poderosa “mão invisível do mercado”, que supostamente dá vida à economia, necessitaria de uma “intervenção cirúrgica” do Estado, por meio de uma “ajuda pública emergencial”, para dar sobrevida acerca de 65 milhões de pobres em situação crítica.

Tal intervenção não deixa de ser ingênua para o governo, pois lhe rende dividendos de popularidade, que lhe permitem continuar impulsionando o modelo de “Estado Mínimo”. Bem-aventurados, portanto, os que não se deixam enganar e defendem intervenções mais aguerridas do Estado na economia, que, além de salvar vidas, destinam-se a criar condições socioeconômicas mais equitativas.

As eleições deste ano, em especial seus resultados em muitos municípios, demonstram um revigoramento das forças populares que atribuem ao Estado o papel de agente promotor de uma economia com finalidade social. A participação cidadã, promovida e reivindicada, inclusive pela Igreja Católica, em particular pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), pré-anuncia tempos novos.

A Igreja, isenta de interesses particulares, respeita, valoriza e defende o Estado laico, por isso, incentiva a participação de todos os cidadãos e cidadãs, na vida pública. Aliás, a Igreja considera que a democracia exclusivamente representativa é incompleta. A democracia plena implica participação organizada e direta dos cidadãos e cidadãs nas decisões fundamentais concernentes ao bem comum.

Por isso, é dever ético de todos os cidadãos, acompanhar o exercício da gestão pública, exigindo o direito à participação no planejamento e na avaliação das ações governamentais, a humanização dos serviços públicos, políticas públicas em favor, sobretudo das pessoas e famílias mais necessitadas, enfim, inclusão política de todos os segmentos sociais, especialmente a classe trabalhadora.

Aliás, o Papa Francisco, em sua recente Encíclica Fratelli Tutti, enfatiza que “é necessário pensar a participação social, política e econômica segundo modalidades tais que incluam os movimentos populares e animem as estruturas de governo locais, nacionais e internacionais com aquela torrente de energia moral que nasce da integração dos excluídos na construção do destino comum”.

Sem estes “semeadores de mudanças, promotores de um processo para o qual convergem milhões de pequenas e grandes ações interligadas de modo criativo”, segundo o Papa, “a democracia atrofia-se”. Por isso, ele nos convida a“gerar processos sociais de fraternidade e justiça”,revalorizando a política como “uma das formas mais preciosas de caridade, porque busca o bem comum”.

“Pensando no bem comum, hoje precisamos imperiosamente que a política e a economia, em diálogo, se coloquem decididamente ao serviço da vida, especialmente da vida humana.” Assim afirma o Papa Francisco em sua Encíclica Laudato Si, realçando a necessidade de se implementar e apoiar práticas socioeconômicas cooperativistas, bem como mudar o sistema econômico por inteiro.

Este ano que está, pois, se findando de modo trágico para grande parte do povo brasileiro, porta também, crescente solidariedade e participação cidadã organizada desse mesmo povo, como sujeito que protagoniza a democracia plena. Podemos então, reavivar nossa esperança de que “amanhã vai ser outro dia”? Evidentemente, “porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações” (Rm 5,5).

Ouça a entrevista

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