Neste dia 31 de julho de 2022, completo
quarenta anos de bispo. Pois de fato, olhando o calendário, e fazendo as
devidas contas, me dou conta que se completam quarenta anos da minha ordenação
episcopal, realizada na manhã do dia trinta e um de julho de 1982, na Catedral
de Erexim, em solene celebração, presidida por Dom Cláudio Colling, Arcebispo
de Porto Alegre, Dom João Hofmann, Bispo de Erexim, e por Dom Ivo Lorscheiter,
bispo de Santa Maria e Presidente da CNBB.
Já
se passaram 40 anos!
Bastaria
uma prece em nossas celebrações, para que a data não passasse em branco. Embora
ela tenha ressonância bíblica, sobretudo pela figura de Moisés, que durante 40
anos no deserto, conduziu o povo para a terra prometida, e no final ele mesmo
não conseguiu entrar, só chegando ao Monte Nebo, de onde pôde enxergar ao longe
a terra tão desejada.
Pessoalmente,
espero celebrar esta data com profunda gratidão a Deus, por ter me amparado com
sua graça ao longo de toda minha vida. Peço que se unam comigo nesta grande
ação de graças a Deus. Na eternidade terei muitos motivos para louvar o Senhor
por todos os benefícios que me concedeu na minha vida!
Mas
esta ação de Graças a Deus se estende à multidão de pessoas que marcaram
presença em minha vida, e foram sinais do amor gratuito de Deus em minha
existência. Fico comovido ao recordar tantos gestos de carinho e de bondade. Que
Deus a todos abençoe e recompense! Expresso minha gratidão aos que a Diocese
incumbiu de me acompanhar mais de perto, na certeza de contar com a graça de
Deus em todas as necessidades.
Mas,
celebrando hoje 40 anos de bispo, acabo me dando conta que a data entrou na
minha vida de diversas maneiras, e em diversas circunstâncias. Em primeiro
lugar, pelo meu nascimento! Nasci em
1940, no começo dos anos quarenta,
daquela década tão carregada de eventos trágicos, provocados pela segunda
guerra mundial, que estava em pleno andamento.
A
guerra teve seu desfecho oficial na Conferência de Yalta, na Criméia, perto da
Ucrânia, em fevereiro de 1945, e com as duas bombas atômicas lançadas sobre o
Japão, em agosto de 1945. A década de quarenta, no século passado, condicionou
muito os acontecimentos mundiais. Sobretudo pelo clima da “guerra fria”, até as
surpreendentes mudanças ocorridas em 1989.
Pois
bem, dá para “amarrar as pontas”, e perceber que o número 40 ajuda a compor o tabuleiro dos acontecimentos que a
história vai registrando.
Faz
40 anos que fui ordenado Bispo de
Jales. Quando isto aconteceu, eu estava completando 42 anos de vida. De tal modo, que somando os 42 anos de vida antes
de bispo, com os 40 anos de bispo, dá o número exato de minha vida até agora:
82 anos. A matemática fecha bem a conta!
Em
meio a tantos acontecimentos, cujo registro nos deixa meio tontos, permito-me
destacar dois: O primeiro, já mencionado, ligado à história mundial, que
culminou simbolicamente com a queda do Muro de Berlim, em novembro de 1989 mas que
iniciou na Polônia em agosto daquele ano.
Outro acontecimento ligado à vida da Igreja: o
Concílio Vaticano Segundo. Na abertura do Concílio, por sorte minha, me deram
uma credencial de jornalista, o que me permitiu participar da sessão de
abertura, estando mais perto do Papa João 23 do que os próprios cardeais. Este fato me motivou ainda mais para
acompanhar o desenrolar do Concílio, que não deixava dúvidas do grande alcance
que ele teria, na vida e na missão da Igreja.
Mas
o momento mais intenso que pude viver nesses anos todos, aconteceu em Varsóvia,
em agosto de 1989. Tínhamos sido convidados pelo sindicato “solidarnôs” para
observar de perto a crescente tensão política nos países que integravam a União
Soviética. A pedido de Dom Luciano, eu estava representando a CNBB.
Passamos
a nos reunir todos os dias com os representantes do sindicato, incentivando que
assumissem o poder, com o respaldo da população que queria mudanças radicais.
Entre o medo e a esperança, prevaleceu a confiança no apoio popular, que deu condições
para que o Solidarnôs começasse efetivamente a governar, contando também com o
bom senso do regime anterior. No final de agosto o novo governo já estava
implantado, fato que levou os outros países da Europa Oriental a tomarem a
mesma decisão.
No
meio deste entrevero político complicado, pessoalmente tive a impressão de
estar vivendo os desdobramentos da “Década dos quarenta”!
De
tal modo que a celebração dos 40 anos de Bispo me ajuda a encontrar o fio da
meada, da história que vamos vivendo, nos animando a “caminhar juntos” na
travessia que nos cabe fazer!
Renovo
meus agradecimentos pela acolhida carinhosa que a Diocese de Jales sempre me
proporcionou. Foi isto que me levou à decisão de permanecer nesta Diocese e
concluir aqui a travessia que me resta fazer, para a qual espero contar com a
graça de Deus e a compreensão de todos.
Lembrando
de novo a figura de Moisés, que só de longe viu a terra prometida, temos agora
a esperança de ultrapassar o monte Nebo, e chegar até o “Monte Sião”, onde o
Senhor nos aguarda, de acordo com suas promessas! Que assim seja!