É de conhecimento comum, que o mês de
setembro é denominado, na Igreja, como «Mês da Bíblia», mas de onde vem essa
tradição?O Mês da Bíblia surgiu em 1971, por ocasião do cinquentenário da
Arquidiocese de Belo Horizonte, Minas Gerais. Foi levado adiante com a
colaboração efetiva do Serviço de Animação Bíblica (SAB), coordenado pelas
irmãs Paulinas, até posteriormente ser assumido pela Conferência dos Bispos do
Brasil (CNBB) e estender-se ao âmbito nacional.
Os
objetivos que motivaram sua criação foram:
* contribuir para o desenvolvimento das
diversas formas de presença da Bíblia, na ação evangelizadora da Igreja, no
Brasil;
* criar subsídios bíblicos nas
diferentes formas de comunicação;
* facilitar o diálogo criativo e
transformador entre a Palavra, a pessoa e as comunidades.
Para
isso, a cada ano, a Igreja focaliza um livro ou parte de um livro da Bíblia.
Neste ano, o livro da Sabedoria está no centro da atenção. Este livro já foi
objeto de um artigo anterior ao meu, portanto, preferirei abordar o papel que
as Sagradas Escrituras possuem no interior da Igreja e da vida cristã.
Restringindo-nos
à era moderna, Papa Leão XIII, em sua carta encíclica Providentissimus Deus(1893), estimula o estudo e a reflexão das
Sagradas Escrituras, sublinhando as vantagens que nos vêm dessa atitude,
citando 2Tm 3,16-17: «Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para instruir,
para refutar, para corrigir, para educar na justiça, a fim de que o homem de
Deus seja perfeito, qualificado para toda boa obra» (n. 4). Leão XIII recorda
que o próprio Cristo «costumava, no exercício de seu mandato divino, recorrer
às Escrituras sagradas» (idem). Para
a Igreja, as Sagradas Escrituras são fruto de um presente que o Espírito
Paráclito «deu ao gênero humano... para iniciá-lo nos mistérios da divindade»
(Papa Bento XV, SpiritusParaclitus,
n. 1). Papa Bento XV, recordando o valor que teve São Jerônimo (347-420) para o
estímulo aos estudos da Palavra de Deus na Igreja, cita um trecho da carta
deste estudioso à virgem Demétria, a fim de estimular em todos o amor pela
Bíblia: «Ama a sagrada Escritura... e a sabedoria te amará, ama-a
afetuosamente, e ela te protegerá, honra-a e receberás os seus afagos. Que ela
seja para ti como os teus colares e os teus brincos» (ibid., n. 15). Impressionante a atualidade da constatação que, em
1943, o papa Pio XII faz da importância da leitura e interpretação da Bíblia
serem auxiliadas por outras ciências, vejamos: «o sentido literal de um escrito, muitas vezes não é tão claro nas palavras
dos antigos orientais como nos escritores do nosso tempo. O que eles queriam
significar com as palavras não se pode determinar só pelas regras da gramática
e da filologia, nem só pelo contexto; o intérprete deve transportar-se com o
pensamento àqueles antigos tempos do Oriente, e com o auxílio da história, da
arqueologia, etnologia e outras ciências, examinar e distinguir claramente que
gêneros literários quiseram empregar e empregaram de fato os escritores
daquelas épocas remotas» (Divino
AfflanteSpiritu, n. 20). Assim, o papa Pio XII reconhece que os textos
bíblicos não podem ser interpretados livremente, sem o recurso às ciências que
nos ajudam a melhor compreender o que os seus escritores pensavam e desejavam.
Em 1965, na conclusão do Concílio Vaticano II, a constituição dogmática Dei Verbum estimula tanto o clero quanto
o povo cristão a que mantenham «contato íntimo com as Escrituras, mediante
leitura assídua e estudo aturado, a fim de que nenhum deles se torne “por fora
pregador vão da palavra de Deus, sem dentro a ouvir”» (n. 25). Depois, o
Concílio ainda recorda São Jerônimo que diz: «Desconhecimento das Escrituras é
desconhecimento de Cristo» (idem).
Reconhece, também, a Dei Verbum, que
«a oração deve acompanhar a leitura da sagrada Escritura, para que haja
colóquio entre Deus e o homem; pois “com ele falamos quando rezamos, e a ele ouvimos
quando lemos os divinos oráculos”» (idem,
citando Santo Ambrósio).
Concluindo,
na exortação apostólica pós-sinodal Verbum
Domini(2010), Papa Bento XVI nos recorda algo essencial: «Uma vez que todo
o Povo de Deus é uma povo “enviado”, o Sínodo reafirmou que “a missão de
anunciar a Palavra de Deus é dever de todos os discípulos de Jesus Cristo, em
consequência do seu batismo”. Nenhuma pessoa que crê em Cristo pode sentir-se
alheia a esta responsabilidade que deriva do fato de ela pertencer sacramentalmente
ao Corpo de Cristo» (n. 94). E, evidentemente, o Sínodo reconhece que «A
Palavra de Deus impele o homem para relações animadas pela retidão e pela
justiça, confirma o valor precioso aos olhos de Deus de todas as fadigas do
homem para tornar o mundo mais justo e mais habitável» (n. 100).
Que
todos nós, cristãos, nos sintamos estimulados e apaixonados pela leitura,
estudo, meditação e oração das Sagradas Escrituras em setembro e sempre!