Na homilia, em celebração que seguiu a tradição dos ritos
aprovados pela Santa Sé, o Papa condenou o consumismo, "que continua a
armar o coração de raiva", e orientou para o caminho da oração e da
caridade.
A missa na Basílica de São Pedro deste domingo (1), o
Primeiro do Advento, foi especial para a comunidade do Congo que mora em Roma e
em outras cidades da Itália. Cerca de 1.500 congoleses marcaram presença pelo
aniversário de 25 anos de fundação da Capelania da Comunidade na capital
italiana. Os fiéis participaram ativamente da celebração eucarística presidida
pelo Papa Francisco, que levou em consideração a tradição dos ritos aprovados
pela Santa Sé, com cantos, danças e vestes típicas, ou seja, o Missal Romano
para as Dioceses do Zaire que incorpora elementos da cultura africana.
Inclusive o Papa fez referência ao uso do “Zaire” logo no
início da homilia, em que iniciou comentando as leituras do dia e a frequência
do verbo “vir”, já que a própria palavra “Advento” significa “vinda”. E, no
primeiro dia do Ano Litúrgico, é um anúncio que marca o ponto de partida:
“ O Senhor vem: eis a raiz da nossa esperança, a segurança
de que entre as tribulações do mundo chegará a nós a consolação de Deus, uma
consolação que não é feita de palavras, mas de presença, da sua presença que
vem no meio de nós. (...) O Senhor não nos deixa sozinhos. Veio dois mil anos
atrás e virá ainda no final dos tempos, mas vem também hoje na minha vida, na
sua vida.”
Jamais somos estranhos na casa de Deus
A nossa vida cheia de problemas e angústias recebe a visita
do Senhor, salientou Francisco, ele “jamais se cansará de nós”. Mas “o verbo
vir não se conjuga somente para Deus, mas também para nós”, lembrou o
Pontífice, para que aceitemos o convite de ir até a casa de Deus, porque ali
somos “aguardados e desejados”.
“ Queridos irmãos e irmãs, vocês vieram de longe. Deixaram
suas casas, deixaram seus afetos e coisas queridas. Ao chegarem aqui,
encontraram acolhimento junto a dificuldades imprevistas. Mas para Deus, vocês
são sempre convidados, bem-vindos. Para Ele, para o Senhor, jamais somos
estranhos, mas filhos esperados. E a Igreja é a casa de Deus: aqui, portanto,
sintam-se sempre em casa.”
O convite para a casa do Senhor, porém, às vezes pode
receber um não nosso, como aconteceu no tempo de Noé: “enquanto algo de novo e
impressionante estava para chegar, ninguém percebia”, porque preocupados em
satisfazer as suas vidas. “Não havia espera por alguém, somente a pretensão de
ter algo para si, a ser consumido”, acrescentou o Papa, sinalizando os perigos
para a fé.
“ O consumismo é um vírus que ataca a fé na raiz, porque faz
acreditar que a vida depende somente daquilo que você tem, e assim se esquece
de Deus que vem ao seu encontro e ao encontro de quem está ao seu lado.”
O consumismo arma o coração de raiva
Depender do consumo, enfatizou, é o verdadeiro perigo que
anestesia o coração:
“ Então se vive de coisas e não se sabe mais para que coisa;
se têm tantos bens, mas não se faz mais o bem; as casas se enchem de coisas,
mas se esvaziam de filhos; esse é o drama de hoje. Perde-se tempo nos
passatempos, mas não se tem tempo para Deus e para os outros. E quando se vive
para as coisas, as coisas jamais saciam, a avidez cresce e os outros se tornam
obstáculos na corrida e, assim, se acaba por sentir-se ameaçados e, sempre
insatisfeitos e nervosos, se eleva o nível do ódio. É o que vemos hoje onde o
consumismo impera: quanta violência, mesmo só verbal, quanta raiva e vontade de
buscar um inimigo a todo custo! Assim, enquanto o mundo está cheio de armas que
provocam mortos, não percebemos que continuamos a armar o coração de raiva.”
Com o verbo “vigiar”, Jesus então quer nos despertar para
esses perigos, afirmou o Papa, ao exortar que devemos abrir o coração ao Senhor
e aos irmãos:
“ A nós hoje cabe vigiar: vencer a tentação de que o sentido
da vida é acumular, desmascarar a mentira de que se é feliz quando se há muitas
coisas, resistir às luzes deslumbrantes dos consumos, que brilharão por todos
os lados neste mês, e acreditar que a oração e a caridade não são tempo
perdido, mas os maiores tesouros.”
A oração pela paz no Congo
Ao final da homilia, o Papa fez referência a duas pessoas
que foram linchadas neste sábado (30), em Beni, no Congo, por uma multidão que
as acusava de fazer parte de um grupo armado responsável pela morte de mais de
100 civis em um mês.
“ Hoje rezemos pela paz, gravemente ameaçada no leste do
país, especialmente nos territórios de Beni e de Minembwe, onde irrompem os
conflitos, alimentados também do exterior, no silêncio cúmplice de muitos.”
E, por intercessão da Beata Marie-Clémentine Anuarite
Nengapeta, que antes de ser morta violentamente perdoou o seu assassino, o Papa
conclui:
“ Peçamos por sua intercessão que, em nome do Deus-Amor, por um futuro que não seja mais uns contra os outros, mas uns com os outros, e se converta de uma economia que serve a guerra para uma economia que sirva a paz. Quem há ouvidos para ouvir, ouça.”
Com informações de Vatican News.
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