Em matemática, 63,6% dos alunos mais ricos aprenderam o
adequado e apenas 3,1% dos mais pobres saem da escola sabendo o mínimo
considerado suficiente na disciplina. Os dados são do Todos pela Educação
(TPE), organização social, sem fins lucrativos.
A entidade analisou os microdados do Sistema de Avaliação da
Educação Básica (Saeb) 2017 e mostrou que há diferença grande e constante,
desde 2011, entre o desempenho dos mais ricos e dos mais pobres em todos os
níveis analisados, no 5º e no 9º ano do ensino fundamental e no 3º ano do
ensino médio. A disparidade entre as porcentagens de estudantes que aprendem o
adequado chega a ser quase cinco vezes maior entre aqueles com maior nível
socioeconômico e os com menor nível.
"A educação, que poderia ser uma das principais
ferramentas para diminuir a desigualdade de aprendizagem não tem conseguido
fazer isso de maneira consistente no Brasil", diz o diretor de Políticas
Educacionais do TPE, Olavo Nogueira Filho. "A gente está avançando na
média brasileira, mas está mantendo um alto grau de desigualdade entre alunos
de nível socioeconômico mais alto e mais baixo. Estamos melhorando sem
conseguir diminuir esse resultado entre mais ricos e mais pobres", avalia.
O Saeb avalia estudantes quanto aos conhecimentos de língua
portuguesa e matemática e é aplicado de dois em dois anos. A avaliação é de
responsabilidade do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira (Inep), que classifica os estudantes em seis grupos,
considerando o nível socioeconômico.
O grupo 1 reúne os estudantes com o menor poder aquisitivo.
São, em maior parte, estudantes com renda familiar mensal de até um salário
mínimo e que têm, em casa, bens elementares, como uma geladeira e uma
televisão, sem máquina de lavar roupa ou computador. Os pais ou responsáveis
têm formação até o 5º ano do ensino fundamental ou inferior.
Na outra ponta, está o grupo 6, com estudantes com renda
familiar mensal de sete salários mínimos ou mais, cujos pais ou responsáveis
completaram a faculdade e que tem em casa três ou mais televisores, dois ou
mais computadores, entre outros bens.
A diferença é constatada desde o 5º ano do ensino
fundamental, quando 90,4% dos mais ricos aprendem o adequado em língua
portuguesa e 83,9%, em matemática e apenas 26,3% dos mais pobres aprendem o
adequado em português e 18,1%, em matemática.
De acordo com Nogueira Filho, a escola pública não está
cumprindo um de seus principais potenciais: reduzir desigualdades. "Para
fazer isso, é preciso ter uma política educacional que se preocupe com essa
questão. Uma política educacional que se traduza em mais recursos para quem tem
maior desafio", defende.
De acordo com o diretor, ocorre o contrário no país. “Os
municípios mais vulneráveis, em geral, são os que têm menor investimento por
aluno quando comparados com regiões de nível socioeconômico mais elevado".
Aprendizagem adequada
De acordo com o levantamento do TPE, em média, considerando
juntos todos os níveis socioeconômicos, houve melhora na aprendizagem no país,
no ensino fundamental. No ensino médio, há praticamente estagnação desde 2001.
O maior salto foi no 5º ano do ensino fundamental. Em 2001,
23,7% dos estudantes aprendiam o adequado em língua portuguesa e 14,9%, em
matemática. Essas porcentagens chegaram a 60,7% e a 48,9%, respectivamente, em
2017.
No final do ensino médio, em 2001, 25,8% dos jovens deixavam
a escola sabendo o mínimo adequado em português e 11,6%, em matemática. Em
2017, essas porcentagens passaram para 29,1% em língua portuguesa e reduziram
para 9,1% em matemática.
O TPE considera como aprendizagem adequada estudantes que
obtiveram pelo menos, em língua portuguesa, 200 pontos no 5º ano do ensino
fundamental, 275 no 9º ano e 300 no final do ensino médio. Em matemática, é
necessário tirar pelo menos 225 pontos no 5º ano, 300 pontos no 9º ano e 350
pontos no 3º ano do ensino médio.
As pontuações foram definidas por um conjunto de
especialistas que buscou como referência, inclusive, o desempenho de estudantes
de nível semelhante em outros países.
Seguindo os níveis propostos pelo Inep, essas pontuações
significam que os estudantes devem estar pelo menos no nível 5 de 10 níveis em
matemática e no nível 4 de 9 níveis em língua portuguesa, no 5º ano; no nível 4
de 8 níveis em português e 5 de 9 níveis em matemática, no 9º ano; e no 6 de 10
em matemática e nível 4 de 8 níveis em língua portuguesa, no 3º ano do ensino
médio.
Ministério da Educação
No ano passado, o Ministério da Educação divulgou, pela
primeira vez, o nível que considera adequado para cada etapa. Os níveis
considerados são mais rígidos do que os definidos pelo Todos pela Educação,
considerando adequado apenas o nível 7 em ambas disciplinas. A métrica foi
questionada por especialistas.
Pelo critério do MEC, apenas 1,62% dos estudantes obtiveram o mínimo adequado em língua portuguesa ao final do ensino médio e 4,52%, o mínimo em matemática, em 2017.
Fonte: Agência Brasil
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