Iniciando
um novo ano, nos propomos viver de maneira nova, com sentido mais profundo.
Como? O ser humano é dotado de sensibilidade, devendo lutar, portanto, por sua
dignidade, felicidade e paz, auxiliando o outro, seu próximo, para que descubra
e viva esse mesmo sentimento. Falamos, pois, do amor fraterno que, sob a
perspectiva cristã, consiste no amar o próximo como o próprio Deus nos ama, testemunhando
seu amor em Cristo (cf. Jo 15,12).
Qual
é o motivo para vivermos esse amor ao próximo? Basta contemplarmos a vida
espiritual de Jesus Cristo, Verbo Divino encarnado. Ele,
nascido no seio de uma família humana, viveu em tudo a experiência humana,
menos do pecado, que esvazia o ser humano. Sua experiência mais significativa
foi o amor fraterno. Isto podemos provar observando os resultados deste amor. Cumprindo-se
o que a Escritura prescrevia (cf. Jo 19,28), ele amou até o fim (Jo 13,1), até a
morte na cruz. Do alto do madeiro, Cristo Jesus deu o seu último suspiro para
que a humanidade pudesse“respirar” vida nova.
Somos,
então, frutos da ação salvífica de Cristo. Ele nos deu o exemplo para que todos
vivamos o mesmo amor. Mas, mesmo salvando a humanidade por amor, observamos que
a morte de Cristo foi causada pelo próprio ser humano. Antes de partir, Cristo
Salvador passou pela experiência dolorosa da traição. O mesmo povo que o seguia
para pedir curas e saudá-lo como Rei e Senhor de suas vidas, se tornou cúmplice
de sua condenação. Os gritos de euforia para chegar perto do Salvador e obter
milagres,transformaram-se em gritos de “crucifica-o”!
(Jo 19,6).
Mais
de 2.000 anos já se passaram e o ser humano ainda não compreendeu o valor do
amor fraterno e mais que isso, não compreendeu o valor da reciprocidade.Quando
falamos em reciprocidade devemos entender que é algo que parte do “eu” para o
“outro”, de forma livre. “Gentiliza gera gentileza”, reciprocidade gera
reciprocidade, pautada na lei do amor.
Compreende-se
“amor” como um sentimento profundo entre pessoas, traduzido na forma de cuidado
e zelo que gera vida, a exemplo do amor divino. “Deus
amou tanto o mundo, que deu seu Filho unigênito, para que não morra todo oque
nele crer, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). No entanto, a experiência
da infelicidade,é a desvalorização do amor, desvalorizando-se, igualmente, a
reciprocidade.
Quando
duas pessoas se amam, criam entre si um sentimento profundo de carinho, partilhado
por ambos, não somente por um. É algo íntimo, sem obrigação, pois Deus nos fez
homens e mulheres vocacionados à liberdade. Mas é uma liberdade constituída de
responsabilidade, conforme afirma o filósofo Sartre. Não somos, pois, obrigados
a retribuir um sentimento, mas cultivar a reciprocidade.
A
reciprocidade gera mudança de vida, sustenta o crescimento do homem e da
mulher, acima de tudo em direção a Cristo, agindo como Ele mesmo agia,segundo a
famosa canção de nosso querido Padre Zezinho: “amar
como Jesus amou; sonhar como Jesus sonhou;
pensar como Jesus pensou; viver como Jesus viveu; sentir o que Jesus sentia; sorrir
como Jesus sorria; E ao chegar ao fim do
dia eu sei que eu dormiria muito mais feliz”.
Vivamos,
pois, com intensidade os exemplos de Nosso Senhor Jesus Cristo, atualizando
seus gestos e palavras na busca de um ideal: a construção do Seu Reino,
motivados por um amor profundo e sincero. Cristo se doou totalmente a nós por
amor. Doemo-nos, também, uns aos outros, vivendo com generosidade e
reciprocidade.