O mês de junho é marcado pela tradicional “Festa Junina”.
Trazida ao Brasil pelos portugueses, essa festa demonstra alegria por meio de
músicas e coreografias. No princípio era chamada de Festa Joanina, fazendo
referência a São João Batista. João teve a missão de preparar o caminho do
Senhor e, antes de iniciá-la, se isolou no deserto, onde existem muitas
privações e adversidades.
Assim como o profeta do Jordão, somos uma voz que clama no
deserto de nossa sociedade, sofrendo as restrições que o isolamento social nos
obriga nesse tempo de pandemia. Por isso, nos momentos de dificuldades,
buscamos maneiras de minimizar a dor. A música, nessas ocasiões, é um santo
remédio. Ela ocupa um papel fundamental na vida dos povos, e culturas. Na
trajetória do povo de Deus não é diferente.
Foi durante a caminhada no deserto que surgiu o primeiro
cântico Bíblico, que é o cântico da Vitória de Moisés descrito no livro do
Êxodo. Enquanto atravessavam o Mar Vermelho, os israelitas, cantando, louvavam
a vitória de Deus sobre os egípcios. Essa manifestação de fé, em melodia,
permeia toda a Sagrada Escritura. Os Salmos presentes na liturgia da Igreja são
uma linda fonte de oração e encontro com Deus.
O Evangelho de Lucas é marcado por três lindos cânticos: O
Magnificat, que sela o encontro de Maria com sua prima Isabel; o cântico de
Zacarias, que é um louvor a Deus pelo cumprimento de sua promessa; e o dos
anjos, entoado por ocasião do nascimento do menino Jesus.
Cantar a beleza da vida faz parte da essência humana, que
carregada de sentimentos e emoções, expressa, através da arte, os mais
profundos dramas de nossa existência. A música nos ensina a amar, nos ajuda a
rezar e, principalmente, nos faz refletir sobre os sofrimentos que vivemos
pessoalmente e em sociedade. Por isso, a verdadeira música cristã é aquela que
não distancia as pessoas das realidades humanas; antes, projeta a esperança de
um céu e nos compromete com as responsabilidades do agora, que são urgentes.
A pandemia, pela qual estamos passando, força-nos a viver o
isolamento social. Nesse tempo, a música torna-se uma grande aliada para que,
mesmo isolados, não nos sintamos desolados. No deserto da pandemia ninguém
caminha sozinho. Por meio de inúmeras lives, a música tem sido um meio para
manter vivas as relações, conectando pessoas e promovendo solidariedade. Santo
Agostinho dizia: “cantar é próprio de quem ama”.
Sendo assim, para amar a Deus e ao próximo, precisamos como
João Batista, testemunhar a verdade, inclusive pela música. Mas, infelizmente,
hoje em dia, vemos muitas mentiras sendo contadas e cantadas. Por isso,
precisamos descobrir e valorizar artistas comprometidos com a verdade, como o
fez a Diocese de Jales na escolha do hino de seu jubileu de sessenta anos.
A música exerce grande influência no comportamento humano,
por isso, é um poderoso meio de evangelização. Portanto, para superar as dores
de nossa existência, Deus sutura nossa alma com a agulha que a música é. Que a
exemplo de João, o Profeta do Jordão, sejamos uma voz que clama e canta
profeticamente, fazendo germinar esperança no deserto da vida, por meio da
música inspirada por Deus, pois ela vai onde as palavras não podem chegar.
Jales, 26 de junho de 2020.