Um certo bairro contava com muitos moradores nordestinos,
mineiros e outros, que passaram a rezar nas casas. Jesus, como migrante, nasce
longe dos familiares. José e Maria não encontraram um lugar em pousadas para
passar a noite. Somos também migrantes neste mundo. Nossa permanência por aqui
é passageira. A família amadurecida na fé pode ser chamada de Igreja Doméstica,
se viver a dimensão da fé, na caridade. Ela não pode fechar-se sobre si mesma,pois
deverá relacionar-se com vizinhos, parentes, amigos, companheiros.
Somos chamados a viver em comunhão, em todos os lugares. A diocese é o lugar privilegiado de comunhão. E a paróquia deverá passar por uma verdadeira conversão pastoral para que se torne uma Comunidade de Comunidades, como diz o documento de Aparecida dos bispos da América Latina e Caribe. Da mesma forma que a paróquia busca acolher os membros mais diversos, em experiências de fé variadas, ela deve também estar atenta para que a fé torne-se mais completa, de modo que a comunidade possa expressar uma fé comprometida com os pobres, migrantes, doentes, desempregados, violentados, excluídos, negros, mulheres, indígenas e tantos outros discriminados e marginalizados.
Uma Comunidade de Comunidades deve gerar em seu seio muitos grupos de base, em experiência de relações iluminadas pela fé, de modo a organizarem-se para transformar a realidade que esteja sofrendo a ausência de Deus, da solidariedade, da misericórdia. Esses grupos de base, se tornarão Grupos Eclesiais ou, mesmo, Comunidades Eclesiais de Base. Por que acolher com facilidade e simpatia um movimento mais voltado para as ações de culto e não organizar-se para possibilitar grupos de base que possam construir expressões de comunhão fraterna? (At 5,12-16).
Numa Comunidade, as pessoas “compartilham a vida, a exemplo da Comunidade Apostólica ao redor do Ressuscitado. Oram juntos, celebram a liturgia que culmina na Eucaristia. A partir da Palavra de Deus, recebem os ensinamentos que vão iluminando sua mente e modelando seu coração para o exercício da caridade fraterna e da justiça” (At 2,42-47; 4,32-35).
A respeito da organização e formação de Comunidades, comentava o teólogo Comblin que a vida social é espontânea, muito simples e expressa os relacionamentos fixados pelos costumes tradicionais. Então, ter de reunir um grupo de pessoas que não pertencem à convivência espontânea da família, ter de planejar e deixar de improvisar, ter de buscar um acordo entre pessoas muito diferentes, ainda que pertençam ao mesmo nível social, é um desafio imenso. Muitos grupos não têm continuidade porque não sabem resolver e superar conflitos, não sabem distribuir tarefas, não sabem valorizar todos os membros.
A participação das pessoas nesses Grupos de Base, motivada pela fé, deve contribuir para o crescimento humano de todos. Nesse sentido, o grupo deve assumir funções de maneira clara, de modo que cada um possa colaborar para que o Grupo se torne Comunidade, onde todos possam ter interações sadias, equilibradas, positivas. Na Comunidade, as pessoas aprendem a planejar suas ações, de maneira que transparece a capacidade de solucionar problemas, efetivando a caridade. Em nossas cidades, são muitas as comunidades que estão se reunindo para rezar e meditar sobre a Palavra de Deus, mas também para realizar ações concretas para melhorias nas condições de vida. São atividades refletidas e organizadas em vista de creches, limpeza de lotes vazios para evitar a dengue, coleta de lixo reciclável, presença nas Conferências da Saúde, estudo sobre a previdência social, enfim a união para serem tratados como cidadãos com dignidade. São exemplos do belo provérbio africano: “Gente simples, fazendo coisas pequenas, em lugares pouco importantes, consegue mudanças extraordinárias”.