A
realidade atual do Brasil necessita ser bem analisada, sobretudo por quem se
propõe realizar um “projeto evangelizador”. A Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB) assume essa responsabilidade ao elaborar as Diretrizes da Ação
Evangelizadora da Igreja no Brasil para o período de 2019 a 2023, por meio de
um processo participativo iniciado há um ano, que culmina na 57ª. Assembleia Geral,
de 1 a 10 de maio de 2019.
Como resultado
desse processo, focamo-nos especialmente no mundo urbano. Por que? Quais desafios
estamos identificando nessa realidade, hoje? Como esses desafios deverão ser
tratados do ponto de vista evangelizador? Quais elementos fundamentais deverão
compor esse “projeto evangelizador”, para que seja humanizador de nossa
convivência e organização social? Quais práticas devem ser priorizadas pela
Igreja nesse contexto?
O mundo urbano se apresenta, hoje, como um grande
desafio para todos os setores da sociedade, em particular para a Igreja. Segundo o IBGE, 86% da
população brasileira vive nas cidades, sobretudo nos grandes centros urbanos,
onde se concentram muitíssimos problemas sociais, agravados pelo alto índice de
desemprego e pelas condições precárias de trabalho, com o consequente
crescimento da pobreza e o aumento da violência.
Os grandes centros urbanos continuam atraentes, sobretudo
para jovens do campo e de pequenas cidades, em busca de oportunidades de
trabalho e estudo. No entanto, a indústria, o comércio e os serviços
concentrados nesses centros, não atendem, suficientemente, à imensa demanda de
trabalho e não oferecem condições dignas para se viver nessa realidade, na qual
o consumo é intenso, o custo de vida é alto e o individualismo é acentuado.
A difícil sobrevivência na realidade urbana, somada ao
seu espírito mercantilista e consumista, estimulam, sobretudo as novas
gerações, à delinquência para conseguir o que necessitam e o que lhes é
incutido pela publicidade. Nesse contexto, o necessário consumo, negado,
mescla-se com o consumismo propagado, gerando um ser humano de identidade
paradoxal: por um lado, desprezado; por outro, manipulado; finalmente,
desintegrado.
Seres humanos desintegrados são egocêntricos, não
nutrem amizades e laços familiares saudáveis, não criam vínculos comunitários, excluem-se
da participação cidadã e até combatem iniciativas socializadoras. Esse estilo de
vida que permeia o “Brasil urbano”, tem sua raiz sistêmica, de cunho economicista,
evidentemente capitalista, o qual é extremamente contraditório: promete
sucesso, mas produz situações sociais dramáticas, fracassos e tragédias.
Evangelizar seres humanos nesse contexto é desafiador. Não basta propor valores, teoricamente. Necessitamos testemunhar estilos diferenciados de vida, que correspondam, realmente, à Boa Nova de Jesus Cristo, por meio de comunidades de fé, organizadas e atuantes em todos os ambientes sociais, em solidariedade desde e com os pobres, no cuidado do planeta, nossa “Casa Comum”, e em prol da vida em plenitude, sinal do Reino de Deus.
O “projeto evangelizador” da Igreja no Brasil,
protagonizado pela CNBB, deverá, enfim, se realizar por meio de pessoas e comunidades
autenticamente evangelizadas, atuando em “rede”, com princípios comuns. Somente
assim poderemos transformar a realidade, especialmente urbana, massacrante,
simbolizada pela “Jerusalém que mata os profetas” (cf. Lc 13,34), em “cidade santa”,
lugar real de “um novo céu e uma nova terra” (cf. Ap 21,1).
Jales, 29 de abril de 2019.