A nova pandemia, causada pelo coronavírus, deixou o mundo
perplexo diante de sua fúria. Conforme disse o Papa Francisco, em sua oração de
27 de março de 2020, parece que o mundo está numa “noite escura”, atravessando
essa “terrível tempestade”, como os discípulos, outrora no Evangelho (cf. Mc 4,35-40),
em meio “um entardecer que ainda perdura”.
O mundo, para aqueles que vivem a compaixão, medita e chora o
número espantoso de mortes, o colapso de diversos países, especialmente no que
diz respeito ao Sistema de Saúde e organizações funerárias, e o pré-anuncio de
temíveis crises econômicas, políticas e estruturais.
Alguns dizem que o mundo está vivendo uma grande
transformação e não será mais o mesmo, indicando um grande momento de crise. Em
situações e momentos de crise é salutar a capacidade de tirar lições, ter
abertura para refletir e disposição para encontrar caminhos e ensinamentos
novos.
Um primeiro aspecto a ser considerado é que o vírus veio
desvelar a pequenez e a fragilidade dos seres humanos. Porém, o homem e a
mulher, com sua pequenez e fragilidade, são preciosos para Deus. Ele não
abandona o seu povo jamais. Cristo estava junto aos discípulos na barca agitada
pela tempestade, como continua com a humanidade, hoje. É um momento em que a fé
é provada.
Deixe-se questionar: este tempo de isolamento está servindo,
realmente, para fazer silêncio interior e buscar a Deus? Está servindo para
fazer uma oração de confiança, súplica e de compromisso com mudança e conversão
de pensamentos e atitudes? Ou você está passando os dias em discussões vazias,
ultrajadas de preconceitos e condenações, fortalecendo as divisões e
partidarismos?
Outro aspecto a salientar é a solidariedade. Ainda que
isolados em casa ou com saídas somente para o trabalho e manutenções
essenciais, a sociedade é convidada a organizar-se. Para tal, o desabrochar da
solidariedade verdadeira exige conversão e abertura ao outro. O outro é meu
irmão e não meu rival.
O futuro neste momento, pode parecer de certo modo
“revirado”, todavia, o ser humano é chamado a cultivar a esperança e a solidariedade.
Atenção e cuidado de modo especial aos mais necessitados e vulneráveis. Isto,
no passar dos dias desta pandemia, será mais uma lição para se viver: estou
contribuindo para salvar vidas e para progredir no bem da sociedade?
A esperança conecta-se necessariamente a este momento, sem
esperança não conseguimos caminhar. Como bem disse Frei Carlos Mesters em uma live, a esperança consiste em descobrir
que a luz já tem raios que brilha entre nós.
Por sua vez, a solidariedade, afirmou o Papa Francisco, em
sua Audiência de 25 de março de 2020, não é ideologia para o cristianismo, mas
é uma realidade. Nesta situação, foi possível ver tantas pessoas gastando suas
vidas para salvar de outras, exercendo um ministério do cuidado, do sacrifício,
da doação material e apoio espiritual às famílias mais necessitadas, com
doentes e falecidos.
Infelizmente, tem-se o risco, também afirmou o Pontífice, de
“sermos golpeados por um vírus ainda pior, o do egoísmo e o da indiferença”.
Como bem ensina a Palavra de Deus, “a comunidade era um só coração e uma só
alma (...) e não haviam necessitados entre eles” (At 4,32-35).
Realmente, inicia-se uma fase de aprendizado como lidar com esta nova realidade gerada pelo vírus e como olhar de modo fraterno, amigável, responsável e solidário para o mundo e para as demais pessoas. De fato, a vida é um constante aprendizado, deixemos Cristo ser o nosso verdadeiro Mestre ao longo da nossa estrada.