Completam-se, portanto, 50 anos de sua
realização. A celebração do seu cinquentenário é uma boa oportunidade para
resgatar a memória deste acontecimento, que se tornou emblemático como
referência do esforço para colocar em prática, de modo criativo o Concílio
Vaticano Segundo.
A própria data da realização da
Conferência de Medellin, no ano de 1968, coloca este evento no contexto
histórico do Concílio, que tinha suscitado na Igreja um amplo processo de
renovação, que necessitava ser bem articulado e bem conduzido.
O Concílio tinha se realizado de 1962 a
1965. Já antes que ele terminasse, foi amadurecendo a idéia de que era preciso
aplicar suas grandes intuições de maneira adequada à situação da Igreja em cada
continente.
Quem logo abraçou esta idéia foram os
bispos latino americanos. É importante assinalar que a Igreja da América Latina
era a única que já possuía uma incipiente articulação continental, através do
CELAM – Conselho Episcopal Latino Americano. Isto facilitou as tratativas iniciais
visando a realização de uma “conferência episcopal”, com a finalidade ampla de
acolher o Concílio e realizar suas propostas de renovação eclesial no contexto
da realidade própria do continente latino americano.
Esta iniciativa contou logo com o incentivo
do Papa Paulo VI, fato que contribuiu muito para legitimar os seus amplos
propósitos.
Outra constatação importante para se
entenderMedellin, era a situação muito tensa, vivida pela maioria dos países
latino americanos, muitos deles enfrentando regimes de exceção, sob o peso de
ditaduras militares, e com a pressão da pobreza em que se encontrava grande
parte da população.
Neste contexto se compreende melhor o
que significou a Conferência de Medellin.
A preocupação em integrar as orientações
pastorais do Concílio com a realidade própria dos países da América Latina,
levou a Conferência de Medellin a adotar o método que acabou sendo uma de suas
características principais: VER, JULGAR E AGIR. Este método era uma das
preciosas heranças da Ação Católica, em especial da JOC, Juventude Operária
Católica.
O desafio de entender a realidade, para
se agir adequadamente diante dela, suscitou a consciência da importância da
reflexão teológica. A caminhada da Igreja precisa ser acompanhada de adequada
compreensão da realidade. Daí nasceu a “teologia da libertação”, em sintonia
com a busca concreta de libertação que permeava o empenho de tirar da miséria e
promoveras populações pobres do continente. Com isto fica situada a “opção
pelos pobres”, que a partir de Medellin passou a ser uma característica
marcante da Igreja latino-americana.
E assim dava para ir entendendo melhor
outas marcas da caminhada pastoral, como as comunidades eclesiais de base, a
leitura popular da Bíblia, a valorização dos leigos, o planejamento pastoral, a
inserção das comunidades religiosas nas periferias, as pastorais sociais, a
proximidade da hierarquia com o povo.
Estes breves acenos sobre a Conferência
de Medellin não são para deixar o assunto esgotado. Ao contrário, se destinam a
nos motivarpara resgatar a memória das grandes opções pastorais, e ter presente
as resistências que elas encontraram, ou que ainda encontram em nossos dias.
Pois Medellin continua sendo um marco referencial para avaliarmos a caminhada da
Igreja na América Latina.