“Ali
veríeis galantes, pintados de preto e vermelho, e quartejados, assim pelos
corpos como pelas pernas, que, certo, assim pareciam bem.”
“A feição
deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes.”
Carta de
Pero Vaz de Caminha
Pode-se
imaginar um território colossal, de natureza exuberante, de vasto e paradisíaco
litoral e coberto pela vastidão do azul do céu, a Ilha de Vera Cruz, em 1500,
abrigando cinco milhões de indivíduos, divididos em mais de mil etnias, antes
de ser “descoberto”? Para efeito de comparação, a nação que aportou na costa
atlântica, Portugal, possuía próximo a um milhão de habitantes. Portanto, o
Brasil de 520 anos atrás, já era ocupado pelos povos indígenas. Antes da
colonização. A partir da chegada de Cabral, a situação dos povos nativos sofre
uma mudança, passando a ter existência real para o mundo conhecido. E a
história se inicia com o conceito equivocado de índio, pois os colonizadores
acreditaram estar na Índia e o termo foi utilizado indiscriminadamente,
nomeando assim todos os nativos igualmente, ignorando a grande diversidade dos
povos indígenas que aqui viviam.
O que de
início chama a atenção na história dos indígenas brasileiros é o despovoamento.
Dos milhões existentes no início da colonização, há atualmente, segundo o Censo
IBGE 2010, 896.917 pessoas, distribuídos em 256 povos, representando 0,47% dos
brasileiros. De população dominante, donos da terra em que habitamos, hoje são
minoria populacional e social.
As
dificuldades, o desrespeito, os sofrimentos e crueldades e as violações aos
direitos fundamentais com que se deparam os povos indígenas no Brasil muito tem
origem na luta pela terra ancestral. Para eles, a terra é muito mais do que um
bem material, ela é fundamental na construção das identidades, do modo de ser,
pensar, conviver. Demarcar as terras indígenas é garantir-lhes a identidade. E
é direito constitucional, não favor. Só assim cessarão as invasões e a
depredação, estopim da maioria dos conflitos e mortes. Outra importância da
demarcação de terras é diminuir o desmatamento, impactando, assim,
positivamente o meio ambiente.
A violência
que se estabelece de modo sinuoso, na presença de tamanho preconceito em
relação a população indígena, o maior preconceito de todos na esfera
brasileira, segundo César Sanson, sociólogo. Este sentimento anti-indígena é um
modelo de racismo. Quando se analisa dados a respeito do direito à vida e a
subsistência desta população, nota-se que em pleno século XXI, há situações de
genocídio e etnocídio.
As agressões
cotidianas vão desde a pobreza e fome às afirmações ditas e ouvidas por pessoas
comuns e até em discursos políticos, nos grandes centros urbanos, no interior
do Brasil: Quase não existe mais índio, daqui alguns anos não existirá mais
nenhum; os índios estão perdendo sua cultura; estão inventando índios, agora
todo mundo pode ser índio; os índios têm
muitos privilégios; tem muita terra para
pouco índio; os índios são preguiçosos e não gostam de trabalhar; nossa
sociedade é mais avançada, não temos nada para aprender com os índios; os
índios atrasam o desenvolvimento do País. O preconceito contra os indígenas
está em todos os lugares
O povo
brasileiro é formado pela junção de três raças: a indígena, a branca e a negra.
Portanto, não há como negar a participação indígena na formação da identidade
nacional. Desde sempre, somos um só povo. É urgente e necessário que neste dia
19 de abril, Dia do Índio, seja oportunidade de reflexão e aprendizado sobre as
questões indígenas. Precisamos sim tirar a venda dos olhos e enxergar o
indígena realmente, pois são mentiras e preconceitos que atrasam a evolução
humana. Somente o conhecimento da realidade dos povos indígenas poderá diminuir
a distância entre irmãos brancos e indígenas. Um reencontro, única
possibilidade para o desenvolvimento pleno, justo, democrático e igualitário
para todos.