Assistimos nos últimos
dias, manifestações de profissionais de enfermagem reivindicando melhores
condições de trabalho, equipamentos de proteção individual, sofrendo por isso,
agressões. Na praça dos três poderes em Brasília, no último 1° de Maio, os
profissionais de enfermagem, em silêncio, com cruzes nas mãos, usando máscaras
e jalecos brancos, traziam o grito de tantos e tantas que já morreram em
serviço. Os manifestantes sofreram ofensas verbais e cusparada na face, reflexo
de ódio, alienação e desrespeito.
Os profissionais de enfermagem lutam legitimamente pela
garantia de seus direitos. No Brasil, eles são mais de 2,3 milhões que trabalham
em situações de risco, muitos dos quais cuidando atualmente de pacientes
acometidos pela COVID-19. Sua exposição a condições insalubres, leva muitos a
adoecerem, inclusive psicologicamente, pelo stress excessivo. Eles não são
remunerados adequadamente. Muitos trabalham em mais de um emprego, o que lhes
causa exaustão. Muitos, agora, estão infectados pela COVID-19.
Ao longo de nossas vidas, todos passamos por atendimentos de
enfermagem. Isso demonstra sua importância. Por isso, no dia 12 de maio, celebramos
o Dia do Profissional de Enfermagem, manifestando nosso respeito e estima pela
sua contribuição à sociedade. Esse dia merece ser ressaltado neste ano,
declarado pela Organização Mundial da Saúde, Ano Internacional dos
Profissionais de Enfermagem e Obstetrícia, em memória aos 200 anos de
nascimento de Florence Nightingale, mãe da enfermagem.
A pandemia nos condiciona a “ficar em casa”. Mas, como fica a
proteção de quem não tem casa, vive na rua ou em condições extremamente
precárias, em favelas e cortiços, em situação de vulnerabilidade social? Essa
situação revela a estrutura socioeconômica injusta de nosso país, marcado por
enorme desigualdade social, marginalização de pessoas, falta moradia,
desemprego e violência. Esses problemas se agravam, agora, com a pandemia,
inadequadamente tratada pelo Estado, sobretudo na sua instância federal.
Em meio a todos esses problemas, o Sistema Único de Saúde
demonstra seu valor, socorrendo sobretudo os mais vulneráveis. Por isso, os
profissionais de enfermagem que lidam com o sofrimento humano diariamente, o
defendem. O papel desses profissionais está sendo fundamental neste período de
pandemia. Eles necessitam de reconhecimento e apoio da sociedade. Nesse
sentido, as palavras da professora de enfermagem, Fátima de Souza, publicadas
pelo Conselho Federal de Enfermagem, merecem destaque:
“A enfermagem nunca se afastará do seu compromisso com os
valores da vida democrática. Cuspe na cara são apenas salivas do ódio, das
bactérias, bacilos, vermes, vírus das doenças do fascismo, do atraso, do
ultraconservadorismo e da ignorância atrevida. Contra esses, sangraremos até a
última gota de sangue que corre em nossas veias. Temos mais a fazer, a exemplo
de cuidar dos familiares destes que nos cospem. Viva os Jorges, as Karines, as
Marias, Suderlans, os anônimos (as) e os(as) que virão. Viva a Enfermagem
brasileira!”