Com a chegada do mês de setembro,
inicia-se em todo o Brasil o já conhecido “Mês da Bíblia”, inspirando-se no
fato de que, ao final do mês, no dia 30, celebra-se São Jerônimo (342-420), o
patrono dos estudos bíblicos, uma vez que ele foi tradutor e estudioso das
Sagradas Escrituras. A cada ano, escolhe-se um livro da Bíblia a ser melhor
conhecido e um lema, ou seja, um assunto de destaque no interior desse livro.
Há uma alternância entre livros do Antigo e Novo Testamento. Este ano, o
livro-tema escolhido é a Carta aos Efésios, presente no Novo Testamento. O lema
é: “Vestir-se da nova humanidade!” (cf. Ef 4,24).
Os
motivos que levaram à escolha da Carta aos Efésios são dois: o primeiro deles
é a relação com a sinodalidade, processo pelo qual a Igreja Católica passa em
todo o mundo, convocada pelo Papa Francisco diante do Sínodo dos Bispos
(outubro de 2023 e 2024) que refletirá sobre a Igreja. Efésios fala muito sobre
a Igreja e sobre a visão que devemos ter dela. O segundo motivo é pela
questão da iniciação à vida cristã. Essa carta fala muito sobre o batismo, esse
tema é uma das prioridades da Igreja no Brasil atualmente.
Essa
carta pertence à segunda geração de cristãos, isto é, aqueles que não
conviveram pessoalmente com Jesus e seus discípulos. Uma provável data para a
sua redação seria entre os anos 80 e 90 da era cristã. Algum colaborador/discípulo
do apóstolo Paulo deve tê-la escrito para comunidades localizadas na antiga
Ásia Menor, atual território da Turquia. Éfeso era a capital romana dessa
região e há uma menção na carta a um tal de Tíquico (Ef 6,21), que já havia
sido nominado em At 20,4 e 2Tm 4,12, o qual é situado na comunidade cristã de
Éfeso.
A
finalidade da carta pode ser buscada, não com absoluta certeza, em um dos
seguintes objetivos: o primeiro, restabelecer a unidade, a paz e o bom
entendimento entre os descendentes de judeus e os gregos/gentios que haviam se
decidido por seguir Jesus.O segundo, estabelecer a reconciliação entre
os membros da comunidade, pois não havia mais os apóstolos e discípulos diretos
de Cristo para garantirem a unidade das comunidades. O terceiro,
destacar os valores evangélicos, a adesão a Cristo e reforçar o compromisso
cristão, uma vez que as comunidades daquele tempo conviviam em uma sociedade
cujos valores eram contrários ao Evangelho de Cristo.
A
Carta aos Efésios deixa claro que a unidade da Igreja funda-se diretamente em
Deus, na Trindade. Afinal, somos todos filhos e, portanto, irmãos por termos um
mesmo Deus Pai, criador do universo. Jesus, o Filho, é o destinatário de toda a
criação, é o Senhor do Cosmos. Recebe os títulos de: o amado, o eleito, o
mediador, o unificador, o redentor, a cabeça da Igreja. Somente ele conhecia o
plano de salvação do Pai (denominado de “mistério”) e o podia revelar. O
Espírito Santo é aquele que dará o cumprimento da promessa de Deus Pai. Ele
confirma o messianismo de Jesus e, por isso, garante a unidade da comunidade de
seus seguidores.
O
lema do Mês da Bíblia — “Vestir-se da nova humanidade” — baseado em Ef 4,24, sintetiza
muito bem o que o autor de Efésios pretende com a sua exortação às comunidades.
Pelo nosso batismo passamos a ser participantes da vida, morte e ressurreição
de Jesus, ou seja, fazemos parte da Igreja, a qual nada mais deve ser do que a
comunidade onde se vive, se pratica e se expande o mistério de amor de Deus
Pai, Filho e Espírito Santo a toda a humanidade. É a vida em comunidade que
deve revelar ao mundo o quanto Deus nos ama. Daí a importância da Igreja, pois
Deus ama e cuida do mundo mediante a comunidade dos seguidores de Jesus, quando
essa atua segundo o Evangelho, é claro!
Por
isso, a Igreja,que somos nós, — aqueles que foram batizados e seguimos Jesus
Cristo—sendo fiel a ele, torna-se esse “homem novo”, despojado do “homem velho”,
corrompido pelas paixões enganadoras deste mundo em que vivemos (cf. Ef 4,22).