A intenção do documento é convidar para um diálogo, visando chegar a consensos que fundamentem uma regulamentação mínima de alguns princípios éticos, que ajudem para discernir valores a serem respeitados e seguidos por todos, em especial pelos agentes que operam as grandes decisões econômicas, para que se garanta, tanto o sucesso econômico, como a primordial destinação da economia para o bem comum de todas as nações.
É inquietante observar a instabilidade da economia mundial, evidenciada, por exemplo, pela grave crise financeira ocorrida em 2007, cujo enfrentamento ainda está sendo pago especialmente por alguns países mais afetados por sua fragilidade econômica.
E para constar como a economia é importante, e precisa ser devidamente respaldada por uma legislação mínima que garanta o seu funcionamento, basta constatar o que nestes dias estamos vivendo em nosso país, com a paralização dos transportes.
Não se pode agir irresponsavelmente com a economia. A preocupação pela sobrevivência do sistema econômico-financeiro está no horizonte deste novo documento da Igreja. A Igreja torce, para que a economia tenha sucesso. Mas adverte que este sucesso só pode ser atingido se a economia é colocada a serviço do bem comum.
“Hoje precisamos imperiosamente, que a política e a economia, em diálogo, se coloquem decididamente a serviço da vida, especialmente da vida humana”, diz o documento.
Ainda permanece, na mente de algumas, a convicção de que a economia tem suas leis próprias, e respeitando-as, ela atinge seu sucesso, que acaba servindo ao bem comum.
Ao contrário, vai crescendo a convicção de que a economia e as finanças interferem tão fortemente na vida humana, que se requer, com urgência, uma regulamentação, baseada em princípios éticos, que integrem conhecimentos técnicos, junto com a sabedoria humana, para garantir a viabilidade dos empreendimentos econômicos, junto com a equidade na obtenção dos seus benefícios.
O documento expressa sua preocupação, afirmando que “está em jogo o autêntico bem-estar da maior parte dos homens e mulheres de nosso planeta, os quais correm o risco de serem confinados, de maneira crescente, sempre mais às margens, se não de serem excluídos e descartados… enquanto algumas minorias desfrutam e reservam para si ingentes recursos e riquezas, indiferentes à condição dos demais”.
O documento observa, com pertinência, que “cada progresso do sistema econômico não pode considerar-se tal se medido somente mediante os parâmetros da qualidade e da eficácia em produzir ganhos, mas deve ser medido também mediante a base da qualidade de vida que produz e da extensão social do bem-estar que difunde, um bem-estar que não pode limitar-se somente aos seus aspectos materiais. Cada sistema econômico legitima a sua existência não somente mediante o mero crescimento quantitativo das trocas econômicas, mas documentando sobretudo a sua capacidade de produzir desenvolvimento para todo o homem e para cada homem”
Com base nesses princípios de ordem ética, o documento analisa alguns procedimentos econômicos e financeiros, fazendo “algumas pontualizações no contexto contemporâneo”, enveredando para assuntos ligados à regularização dos mercados, e outros, com um linguajar hermético para a grande maioria das pessoas que não lidam com estas questões complicadas.
Dada a complexidade dos assuntos, e seu linguajar característico, o documento nos deixa uma clara advertência: se destina a especialistas nas questões econômicas e financeiras, com o convite a contribuírem no diálogo que se torna cada dia mais necessário, sobre os critérios que devem ser levados em conta, para garantir a eficiência, sim, dos empreendimentos econômicos e financeiros, mas garantindo sobretudo, que seus êxitos se destinem para o bem comum.