Então, é Natal. Luzes, cantos, presentes, belas mensagens
e orações mexem com nossos corações, aflorando emoções: saudades de belos
tempos de infância, de amigos e amigas distantes, e dor no peito ao recordar
familiares que já se foram. O Natal nos torna, é certo, mais afáveis. O clima
de mais amor refresca o calor de discussões e dissenções. Os que amargam
dissabores, ensaiam sorrisos e abraços. Colegas de estudo e companheiros de
trabalho se confraternizam.
Que bom! É Natal. Por quanto tempo? Até a ressaca do dia seguinte? Até
que os presentes percam seus encantos? Até que tudo volte ao ritmo anormal de
“cada um pra si”? Até que o comércio anuncie promoções para continuar tentando
vender a quem sobrevive com dinheiro curto? Afinal, celebramos, realmente, o
nascimento do Filho de Deus? Ele, “Deus conosco”, habitando entre nós, apontou-nos
o caminho para um modo definitivamente novo de vida em comum.
Necessitamos discerni-lo bem. Se o Natal for motivo para uma festa de
aniversário na qual o próprio aniversariante é deixado de lado, ou tido como
coadjuvante de um Papai Noel mercantilizado, qual sentido terá? Será uma mera
comemoração prazerosa, sem novos horizontes. No entanto, se crermos em Cristo,
o amarmos e o seguirmos com fidelidade, construiremos relacionamentos e um
estilo de sociedade que corresponde ao Reino de justiça que ele inaugurou.
Se o Natal for, portanto, vivido em seu sentido verdadeiro, faremos mais
e melhor, por exemplo, pelas entidades socioeducativas de crianças e
adolescentes, e famílias carentes. O presépio será, então, de pessoas
concretas, com dramas reais: os sem teto, sem emprego, sem-terra, sem educação
de qualidade, sem atenção à saúde, sem aposentadoria justa, sem afeto, sem paz,
sem liberdade, e os sem ânimo para viver por causa de tantos problemas e
adversidades.
Neles, Cristo
faz sua morada, demonstrando-lhes que são destinatários da Boa-Nova, libertando-os
de suas opressões, tornando-os sujeitos proativos, estimulando-os a alçarem suas
vozes coletivas para serem tomados em conta em decisões governamentais e conquistarem
respeito à sua condição de cidadãos e à sua dignidade de filhos e filhas de
Deus. Natal é, portanto, emancipação e humanização, que dão sentido à nossa coexistência.
É tempo
intenso de oração e ação. Mexe com corações. Mexe, também, com noções e nações.
Nele, a encarnação do Filho de Deus e a redenção em Cristo se associam. Sua
ressurreição nos abriu o caminho para um novo e definitivo nascimento. Essa
obra será completada em sua segunda vinda, pela qual libertará completamente a
humanidade, possibilitando-a participar de sua glória. A salvação em Cristo é,
pois, universal. Ele a oferece ao mundo todo.
Ele mesmo diz que todas as nações da terra
serão reunidas diante dele para o juízo final (cf. Mt 25,31-46). Os solidários entrarão
no Reino de Deus. Os que viverem somente para si recusarão a vida em plenitude.
Qual opção, nós, pessoalmente, faremos? Qual opção nossa nação, também, fará? Construiremos
um país justo e solidário ou repetiremos a história, desprezando Cristo, pelo
desprezo aos pobres e condenando suas lutas por vida digna?
Jales, 20 de
dezembro de 2018.