A célebre tríade da Revolução Francesa – liberdade, igualdade, fraternidade – marcou de tal modo a civilização moderna, que o principal documento desta civilização, a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), traz em seu artigo I: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos (…) e devem agir uns em relação aos outros com espírito de fraternidade”.
O terceiro termo, fraternidade, tornou-se periférico em
relação aos outros, pois enquanto os dois primeiros podem ser invocados como
direitos, a fraternidade está ligada muito mais à idéia de dever, e
principalmente ao dever de reconhecer o outro como irmão.
Reconhecer o outro como irmão é assumir responsabilidades
por ele, exercendo a solidariedade. No sentido jurídico, responsabilidade
significa a situação em que cada membro de uma relação responde pelos demais,
principalmente no que diz respeito ao pagamento de uma dívida. O contrário da solidariedade
é a indiferença.
Reconhecer o outro como irmão é também respeitá-lo. A pessoa
é livre quando não está submetida a uma vontade alheia, mas pode fazer escolhas
e enfrentar as consequências dos seus atos, inclusive pagando o preço dos seus
erros. O contrário do respeito é a coisificação, que é ver o outro como objeto
e negar sua condição de autor daquilo que faz.
Reconhecer o outro como irmão, por fim, é afirma-lo como
igual a si mesmo, criando uma relação recíproca: o outro tem os mesmos direitos
e mesmos deveres que eu. Deve haver uma simetria entre as pessoas, considerando
que não há direitos sem deveres e não há deveres sem direitos. O contrário da
reciprocidade é a parcialidade, de querer para si os direitos e deixar para os
outros os deveres.
Assim, a fraternidade é uma atitude complexa que abrange não
só a solidariedade, mas também o respeito e a reciprocidade. A solidariedade é
apenas uma dimensão da fraternidade, e não pode ser pensada como uma atitude
exclusiva na relação com o outro.
Grandes ações solidárias têm unido as pessoas para ajudar os
que mais precisam, principalmente nas grandes tragédias. Isso é sinal de que
sabemos nos unir na solidariedade, mas ainda precisamos aprender muito sobre
fraternidade.
O Estado Social tradicional estruturou-se segundo uma lógica
puramente solidária e a consequência disso foi o crescimento da indiferença e
da parcialidade entre as pessoas na sociedade. Aprendemos a cobrar as ações do
Estado, e isso é necessário, mas ainda precisamos fortalecer a nossa relação
fraterna, de corresponsabilidades.
A Carta aos Hebreus traz a seguinte recomendação:
“Perseverai no amor fraterno” (Hb 13,1). A grande contribuição do cristianismo
para mundo continua sendo o ensinamento de que somos todos irmãos, por isso Jesus
nos ensinou a chamar Deus de Pai.
A fraternidade é o princípio de organização de uma sociedade
participativa, para que todos sejam responsáveis por todos em todos os
momentos, não somente nas situações trágicas. Por isso, precisamos pensar bem
as nossas ações, pois tudo o que fazemos ou deixamos de fazer, de alguma forma,
repercute na vida do outro, que é nosso irmão.
Padre Rodolfo Cabrini
de Oliveira
Paróquia Santo
Expedito Fernandópolis