Há uma categoria que perpassa todos os evangelhos e, consequentemente, a Igreja se implica com ela ao longo de todos os séculos. É a categoria do Reino de Deus. Esse reino foi anunciado pelos profetas e instaurado por Jesus Cristo na coincidência de suas palavras anunciadas e obras realizadas. Jesus é a Autobasileia, isto é, o Reino em pessoa.
O Reino de Deus se concretiza na paz, na justiça e na fraternidade. E, por mais que caminhemos crescendo na vivência efetiva dessas virtudes, tanto mais percebemos a necessidade de progredir, pois o Reino é uma categoria inalcançável plenamente no aqui e agora. O Reino é uma categoria escatológica, ou seja, ele já está presente, mas ainda não em plenitude.
A vocação da Igreja é ser sacramento do Reino. Sendo assim, a Igreja precisa estar em constante estado de conversão, para se configurar às palavras e às obras de Jesus Cristo. O estado de vigilância rege o ser eclesial. Todo mistério cristão celebrado precisa ser o mistério testemunhado no cotidiano da vida e da sociedade.
Dada a proximidade do final do ano, abre-se-nos a possibilidade de avaliação da nossa conduta cristã e de renovação de nossas expectativas em relação a um mundo novo. A ação celebrativa é revestida de linguagem apocalíptica e escatológica, apontando para a segunda vinda de Cristo, a Parusia.
À primeira vista, Apocalipse, como figura de linguagem, evoca temor, devido aos símbolos, números e sinais relacionados a essa palavra que perpassam livros bíblicos. O objetivo apocalíptico coincide com o escatológico, isto é, a “ciência” acerca do fim. O fim, enquanto tendência, vocação última dada pelo Criador às suas criaturas. De onde viemos? Em quem encontramos a consistência da nossa existência? Para onde vamos?
O Apocalipse nada mais é do que a Revelação plena do Amor de Deus manifestado em seu Filho Jesus Cristo, e n’Ele está a consistência da nossa vida e da nossa história. Por Ele e para Ele fomos criados, segundo a sua imagem e semelhança. Nele e com Ele se dá o fundamento ético de nossa vivência histórica concreta.
Nessa concretude do tempo e do espaço em que estamos inseridos, somos chamados a implicarmo-nos com o Reino de Deus, que evoca a necessidade da vigilância. Não uma vigilância ilusória e descomprometida, mas uma vigilância operante, fruto da oração e da escuta da Palavra de Deus.
Aquele que veio revestido da nossa fragilidade humana pela primeira vez virá revestido de Glória uma segunda vez, com uma finalidade: julgar os vivos e os mortos, bem como o mundo e a história. Sua vinda é imprevisível, mas é credível que virá! Portanto, é tempo oportuno de conversão e de vigilância na implantação do Reino de Deus entre nós.
O Criador não nega a sua própria essência. O Criador não se tornará destruidor, evocando um fim catastrófico. O Criador deseja o fim do mundo da maldade, da injustiça, da indignidade e do desamor. Deseja uma transfiguração do mundo e das pessoas. Entretanto, o “fim do mundo” afirmado por tantos, face às atrocidades humanas e às catástrofes ecológicas, não está próximo, se tomarmos em consideração que a chegada imprevisível do Senhor pode ser no hoje de cada dia, transformando as nossas atitudes pela correção terna de Deus. Todavia, estaremos contribuindo para a criação de um novo Céu e uma nova Terra, autenticando o Reino de Deus aqui e almejando o mesmo Reino na plenitudeda Glória.