Lucas relata
em seu evangelho que certa vez, interpelado pelos fariseus, Jesus respondeu:
“Se eles se calarem, as pedras clamarão”. A Irmã Cecilia Castilho,
musicalizando esse texto, nos alerta: “Se calarem a voz dos profetas, as pedras
falarão”.
Também segue
o papa Francisco: “Um verdadeiro profeta é aquele que é capaz de chorar por seu
povo e também de dizer as coisas fortes quando for necessário. Não é morno; é
sempre assim, direto”, em homilia realizada em abril de 2018.
Quando se
fala em profetas e profecias, na hora vêm à mente os grandes nomes bíblicos:
Ezequiel (aquele que previu o exílio do povo judeu na Babilônia) ou Daniel (que
interpretava sonhos e visões de reis). Sem nos esquecer daqueles que, dentre
outros, são chamados profetas menores: Amós (vaqueiro que levantou sua voz
contra as balanças fraudadas e os poderosos em camas de marfim), Oséias (da
alta classe camponesa, combateu o culto ao deus Baal, o sincretismo religioso
e, por ordem de Deus, casou-se com uma prostituta) e Miquéias (camponês que
denunciou as autoridades políticas, judiciais, militares e religiosas de
Jerusalém).
Numa visão
mais contemporânea, pode-se creditar o termo profeta a grandes líderes como
Martin Luther King (líder do movimento dos direitos civis nos Estados Unidos),
Nelson Mandela (feroz opositor do apartheid na África do Sul), Mahatma Gandhi
(com sua política pacifista na independência da Índia), dom Paulo Evaristo Arns
(com coragem e fé lutou ao lado dos
perseguidos e marginalizados, e nossas queridas Santas Tereza de Calcutá e Irmã
Dulce dos Pobres, canonizadas pelo seu belíssimo trabalho assistencial e
humanitário.
Mas será que
só os grandes podem ser profetas neste nosso mundo? De grandes estaturas, de
grandes atos, de grande heroísmo? Definitivamente, não. Ser profeta está além
de fazer previsões, operar curas, falar em línguas ou outras atribuições que
damos a pessoas divinamente iluminadas. Ser profeta é ser, pura e simplesmente,
um homem e uma mulher de esperança. Que atua sem meios-termos, mas de maneira
direta e sincera. E com verdade.
É a mãe que
trabalha fora o dia todo e chega em casa, mesmo cansada, e dá amor, atenção e
orientação aos seus filhos. É ser o assalariado que ganha seu pão honestamente
pensando tão e somente em dar um futuro à sua família. É o empresário que trata
com justiça seus empregados e lhes estende a mão em momentos de apuro. É o
filho que respeita os pais e se dedica a honrá-los incondicionalmente. É o avô
que toma o neto em seu colo e, com afago, transmite sua sabedoria e seu
carinho. É todo aquele que se indigna com as injustiças sociais e age na
comunidade para transformá-la. É quem, com espírito verdadeiro, age na certeza
de que o mundo pode ser um lugar melhor e mais digno de se viver. É olhar para
o seu semelhante e realmente ver no outro a figura do próximo.
Não é fácil
ser um profeta. Não é fácil ser um ser humano que irradia a sua esperança nos
ambientes em que vive. Mas é só por meio dessa ação profética que é possível
dar sua contribuição, ainda que pareça minúscula, para quem está à sua volta e
para as futuras gerações.
Que possamos
ser profetas do Apocalipse, por que não? Não o Apocalipse do fim do mundo, mas
no sentido grego da palavra – Revelação – e desvelar um mundo realmente possível
de compreensão e caridade, em contraponto às polarizações e ao ódio.
Sejamos
profetas no dia a dia, independentemente de credo. Seja homem, mulher, negro,
branco, evangélico, católico, espírita ou ateu: todos nós podemos ser homens de
esperança.