No Brasil dos dias atuais, a expressão “carne fraca” está
sendo utilizada na Operação da Polícia Federal em combate à falsa qualidade de
alguns produtos comercializados por frigoríficos de renome nacional e internacional,
acobertados por agentes públicos. Evidentemente, essa operação faz sentido. Por
que, no entanto, tornou-se pública imediatamente após as grandes manifestações
nacionais contra os projetos de Reforma da Previdência e Trabalhista?
O amplo debate sobre essas reformas ficou, de repente, obscurecido.
O calor da discussão sobre as mesmas esfriou-se. A grande mídia conseguiu
substituir a pauta das reformas, que estava se popularizando e tomando grandes
proporções, pela temática da “carne podre”. Enquanto o legislativo federal está
em processo de discussão e votação dessas reformas, a mídia burguesa tenta
desviar a atenção da sociedade brasileira para a Operação Carne Fraca.
Nesse contexto, vale a pena relacionar o nome dessa
operação à fraqueza da carne mencionada por Jesus. Ele, na eminência de ser
preso, condenado e morto, vendo seus discípulos adormecidos, lhes diz: “Vigiem
e orem para não caírem em tentação, porque o espírito está pronto, mas a carne
é fraca” (Mt 26,41). Certamente, Jesus se refere à fragilidade humana,
experimentada pelos discípulos e por Ele também, na missão confiada por Deus
Pai, em confronto com detentores do poder.
Os soberanos judeus, aliados ao Império Romano, após
tentarem, sem sucesso, desmoralizar o projeto de Jesus e reprimir suas ações em
favor do povo pobre e oprimido, decidem eliminá-lo. Em torno de Jesus surge um
grande movimento popular, marcado ainda por incoerências. Muitos o seguem,
pensando que Ele irá instaurar um novo governo. O projeto dele, no entanto, é mais
profundo, coloca em questão o sistema de vida em sociedade, no seu todo.
Ao pedir a seus discípulos que vigiem e orem porque a “carne
é fraca”, Jesus mostra a fragilidade das pessoas e do movimento criado em torno
dele.Por isso, exorta os “adormecidos”a acreditarem na força que vem de Deus,
colocando-se em sintonia com Ele, função esta da oração. Da sinergia coletiva
dos discípulos com Deus, emerge um poder que nenhum outro pode suplantar. Jesus
revela que o povo, impregnado do Espírito de Deus, tem condições de vencer as
investidas do poder.
Hoje, os cidadãos comuns, pressionados por políticas
econômicas que arrocham salários, geram desempregos e suprimem direitos, estão
perplexos frente à situação do país. O novo governo, de legitimidade duvidosa,
prometia uma retomada do crescimento econômico. Nota-se, no entanto, uma
tendência ao agravamento dos problemas. Os empregos prometidos estão sendo ainda
mais reduzidos, e os impostos, já altos, estão sendo aumentados.
A perplexidade de nosso povo se funda na confiança
defraudada. Os cidadãos se sentem e se tornam, realmente traídos, porque a
solução de seus problemas, confiada a seus representantes, têm resultado em
fracasso. Por que? Ao transferirem a outrem a responsabilidade de gestão
social, sem direcionamento e controle social, renunciam ser sujeitos e
protagonistas. A incoerência é de todos que assim atuam. Deste modo, a carne
revela-se, realmente, fraca.
Criemos, então, uma nova consciência, divinamente
inspirada, que emerge do amplo debate sobre tudo que envolve nossa vida social,
sem perder o foco no que é relevante. Debatamos, portando, a respeito de tudo,
inclusive sobre a Operação Carne Fraca. No entanto, estejamos agora, focados em
manifestarmo-nos frente aos trágicos projetos de Reforma da Previdência e Trabalhista,
reagindo coletivamente com sabedoria divina, ou seja,“Espírito
Forte”.
Jales,
23 de março de 2017.