A Solenidade de Pentecostes
representa um acontecimento vital para a Igreja. O envio do Espírito Santo,
sobre os discípulos, manifesta a riqueza da vida nova, comunicada pelo Cristo
ressuscitado. Esse acontecimento anulou a confusão, a indiferença e o desentendimento
gerado em Babel e predispôs, aos seres humanos, a possibilidade de se ligarem a
Deus através da linguagem do Espírito Santo, isto é, da consecução do amor
entre o Pai e o Filho. Desde então, esse mistério permanece no meio de nós,
conduzindo-nos a viver e proceder segundo o Espírito que perscruta o nosso ser.
Ao fazer uma releitura histórica da
humanidade é possível constatar a luta do ser humano pela preservação da vida.
A pessoa humana trava uma disputa com a outra, em uma atitude egoísta e unilateral,
para garantir a sua existência. Isso
ocorre desde Babel, passando por grandes conflitos, como colonizações de
exploração, Guerras, ditaduras, Holocausto, Guerra Fria e golpes militares.
Essas realidades proporcionaram a desumanização social e contribuíram para a
intensificação do sofrimento humano, transformando corações em relógios e
pessoas em números.
Nos dias vigentes, em meio à
realidade pandêmica, vemos novamente a sensibilidade humana ser substituída
pela cultura da indiferença e pela desvalorização da vida. Há pessoas que se
julgam superiores a famílias e seres humanos que já foram acometidos pela
COVID-19, e tal fato nos faz perceber que situações como essas podem resultar
em comportamentos instintivos e individuais pela própria sobrevivência,
desvanecendo a humanização e compaixão para com o próximo. Como afirma São João
Paulo II, na Audiência Geral em 24 de agosto de 1983, "se uma pessoa é
indiferente em relação à verdade, não se dará conta da formação da própria
consciência e acabará, cedo ou tarde, por confundir a fidelidade à própria
consciência com a adesão a uma opinião pessoal ou à opinião da maioria."
Dessa forma, é necessário assumir o
compromisso batismal em meio à pandemia, compreendendo e sentindo o que o ser
humano pensa em situações de carecimento social e afetivo, transmitindo-lhe o
entendimento de seus sentimentos e suas necessidades. Em outras palavras,
devemos reconhecer a vulnerabilidade do nosso irmão e irmã, por meio de gestos
e ações para formar uma rede de amor e humanização. Somos chamados à luz do
Espírito Santo, a sermos sujeitos “paráclitos” na vida do irmão e da irmã, isto
é, consoladores e defensores da vida, cumprindo assim, o novo mandamento
deixado por Jesus: “como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos
outros. Nisto conhecerão todos que sois os meus discípulos: se vos amardes uns
aos outros”. (Jo 13, 31-33)