Em meio às trevas e ao medo do momento atual, causados pela COVID-19, cujos infectados e mortos crescem a cada dia, ressoa em nossos corações o canto do “Exultet”, anunciando a alegria da Páscoa. Em Cristo Ressuscitado, o amor venceu o ódio, a vida venceu a morte, a luz afugentou as trevas! Mas, por que o mal ainda nos aflige? Porque ainda sofremos? Onde está nisso o Ressuscitado?
Para iluminar nossa reflexão sobre a existência do mal e o suposto
“silêncio de Deus”, é necessário, primeiro, afirmar que o sofrimento não é,
simplesmente um problema, mas um grande mistério. Não estamos diante de um
enigma a ser decifrado, mas diante de um mistério de fé. Qual
interpretação nos sugere a fé cristã?Tomemos como referência central a pessoa
de Jesus Cristo.
“Na sua atividade messiânica
no meio de Israel, Cristo tornou-se incessantemente próximo do mundo do
sofrimento humano. Curava os doentes, consolava os aflitos, dava de comer aos
famintos, libertava os homens da surdez, da cegueira, da lepra, do demónio e de
diversas deficiências físicas; por três vezes, restituiu mesmo a vida aos
mortos”(cf. Carta Apostólica de São João Paulo II, SalvificiDoloris).
O Evangelho nos mostra que Jesus não fez apologia do
sofrimento e nem o desejou. Ele sequer veio a este mundo para morrer pela
humanidade, senão para dar-lhe vida, salvar-lhe. “Ele passou fazendo o bem” (At
10,38). Concluímos que a COVID-19, além de não ser doença chinesa, sendo
antiético assim conceituá-la, não é também castigo de Deus.
Não podemos esquecer que o Deus, a quem fazemos a pergunta
sobre o sofrimento, nos responde desde a cruz, do meio do seu próprio sofrimento,
com expressões de misericórdia.Ele não explicou o motivo do sofrimento, sequer
indiretamente, mas o viveu, transfigurando-o, tomando sobre si nossas dores e
aflições. No sofrimento da cruz revela-se a plenitude do amor de Deus.
No sim do Filho de Deus, a “antiga desobediência” a Deus foi
vencida. A cruz tornou-se em Cristo, salvação e glória. O sofrimento tornou-se
sinal de amor.Onde, então, está o Ressuscitado em tempos de COVID-19? Ele está
nos que são vítimas, bem como nos médicos e agentes de saúde que os atendem. Está
nos cientistas que pesquisam vacinas. Está em todos os que ajudam a amenizar os
sofrimentos. Está, também, nos que oram uns pelos outros e difundem esperança.
Por isso, o que de melhor podemos fazer neste momento senão
inspirarmo-nos nos conselhos da tradição cristã e da ciência? Resistamos ao
pânico! Os motivos para nos preocuparmos são muitos, contudo, o pânico não vem
de Deus, a calma e a esperança sim. Somos responsáveis por nosso destino comum.
Por isso, cuidemos uns dos outros, sobretudo dos doentes.
Embora os templos estejam fechados por prudência e testemunho de amor, estejamos agora, mais ainda unidos em oração. Por fim, sigamos o sábio conselho de quem ama a vida como dom Deus: Cuide bem de si, de sua família e de todos!Fique em casa, ajude quem não tem casa e seja solidário com os que não podem retornar à casa por estarem nos hospitais salvando a vida dos demais!