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Editorial da Semana

Editorial da Semana - Diocese de Jales

Sexta-Feira, 01 de Novembro de 2024 às 09:13

A ELABORAÇÃO DO LUTO E AS ADAPTAÇÕES DA VIDA

Amanda de Azevedo Soares Careno | Psiquiatra

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“Reencontrarás o meu coração, reencontrarás nele a ternura purificada. Enxuga tuas lágrimas e não chores, se me amas: o teu sorriso é a minha paz.” – Santo Agostinho

 Atravessar o caminho de elaboração da perda de alguém amado e da adaptação a uma nova realidade de vida sem dúvida é um dos processos mais desafiadores e difíceis da nossa existência terrena. É através das relações humanas, dos afetos familiares e fraternos que nos constituímos em nossa individualidade e através dessas relações norteamos também nossos referenciais de mundo, nos mais diferentes aspectos. Temos a tendência a pensar e sentir o mundo de maneira semelhante àqueles com quem mais convivemos.

Carregamos orgulhosamente em nós os trejeitos de um avô amado, o tempero da avó querida, a paixão pelos livros daquela tia professora, as habilidades manuais do tio inventor, o gosto musical compartilhado com um irmão artista e o olhar amoroso e compassivo de nossos pais e outras pessoas que são referenciais de afeto.

Quando vivemos a perda, parece que um buraco em nossa vida se abre. O luto nos dá a sensação de que algo essencial nos foi tomado, e a partir desse instante nos vemos perdidos, pois por alguns momentos sentimos que nosso referencial de mundo se transformou. E sim, tudo mudou.

Mesmo que em algumas situações, o momento da perda seja de alguma forma previsível, nunca é possível se preparar totalmente para o luto. Cada relação humana é única, e só podemos saber o que sentiremos na ausência do convívio com cada pessoa quando vivemos essa situação.

Considerando os aspectos emocionais, é esperado que as pessoas precisem de tempo para viver o processo de elaboração do luto. Segundo o mundialmente citado modelo da psiquiatra suíça, Elisabeth Kübler-Ross, passaremos pelas fases da negação, raiva, barganha e depressão, até que cheguemos à aceitação do luto. Não há um tempo exato para esse processo.

Quando chegamos à aceitação, não significa que não sentiremos saudades e mesmo alguns rompantes de tristeza. Mas conseguimos nos lembrar da pessoa querida de forma que prevalecem as lembranças do amor vivido e dos inúmeros momentos essenciais passados juntos.

Dessa forma, o amor perdura. E não é clichê dizer que aqueles que nos deixam, seguem vivendo através de nós, de nosso amor, comportamentos e atitudes. E se a conversa costumeira já não é possível, que lhes dediquemos nosso carinho, gratidão e orações.

É certo que a oração e o fortalecimento da fé são caminhos essenciais para o conforto no momento da dor, pois, embora a separação possa ser dura, conseguimos alento na convicção do reencontro na vida eterna, ao lado do Pai.

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Artigo semanal escrito por João Gimenez Barciela Marques, contador (aposentado) e membro da Comissão Bíblica Diocesana de Jales.